1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.


Constituição da República Portuguesa, Artigo 37º

sábado, 24 de fevereiro de 2007

PORTUGAL O PARAISO SOCIALISTA

Profissão esquecida Alegre reformado da rádio portuguesa

Mariline Alves Manuel Alegre, vice-presidente da Assembleia da República, era até há pouco tempo coordenador de programas de texto da RDP (Rádio Difusão Portuguesa), cargo do qual se reformou, com 3219,95 euros mensais, segundo a lista dos aposentados e reformados divulgada pela Caixa Geral de Aposentações (CGA).

Político e escritor, Alegre tinha bem escondida dos portugueses e dos amigos a profissão de funcionário da RDP. E nem ele mesmo se lembrava, tanto que, conforme o garantiu ao CM, “se não fossem eles [CGA] a escrever” uma carta a informá-lo da reforma, o vice-presidente da Assembleia da República “nem teria dado por isso”.

Admitindo ter ingressado nos quadros da RDP pouco depois de “regressar a Portugal”, vindo do exílio em Argel, Manuel Alegre confessa que esteve “pouco tempo” nas funções de director dos Serviços Criativo e Culturais da RDP (Jaime Gama era o director dos Serviços Informativos).

Isto porque nas primeiras eleições democráticas, para a Assembleia Constituinte, realizadas no dia 25 de Abril de 1975, foi “eleito deputado”, tendo desde então sido sucessivamente reeleito, razão pela qual nunca mais voltou a trabalhar na rádio. Mas, acrescenta, “se por alguma razão não fosse eleito deputado, teria regressado para RDP”.

Ana Sara de Brito, socialista responsável pela logística da campanha de Alegre à Presidência da República, mostrou-se estupefacta, referindo que “talvez Mário Soares soubesse” desta actividade.

“Não me passava pela cabeça que ele fosse funcionário da rádio”, reafirmou ao CM, considerando que Alegre “devia era doar a reforma ao MIC”, Movimento de Intervenção Cívica, criado na sequência da votação obtida (mais de um milhão votos) por Alegre nas eleições presidenciais.

Também Maria de Belém, colega de bancada e amiga de Alegre, desconhecia a profissão de radialista.
“Eu não sabia mas ele também não tem de conhecer toda a minha vida”, frisou ao CM, lembrando-o nos seus tempos de juventude, com “os seus poemas e canções”, e o seu exílio em Argel. “Aí ele tinha um programa na rádio”, sublinhou, recordando ainda que Alegre tutelou a Comunicação Social.

Foi no I Governo Constitucional, entre Julho de 1976 e Dezembro de 1977, que Manuel Alegre assumiu a Secretaria de Estado da Comunicação Social – quando foi encerrado o jornal ‘O Século’ – cargo que acumulou com o de secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro [Mário Soares] para os Assuntos Políticos.

Correio da Manhã – É verdade que vai receber 3 219,95 euros de reforma da rádio?
Manuel Alegre – Vou receber um terço. Como deputado não posso acumular o vencimento com a reforma. Optei pelo ordenado e um terço da reforma.
– Quanto tempo tem de RDP?
– Fui colocado quando regressei no 25 de Abril. Em 75 fui eleito deputado e tenho sido sempre reeleito. Nunca mais lá trabalhei, mas descontei sempre.
– O cargo não consta na sua biografia do Parlamento.
– É uma lacuna, mas não da minha responsabilidade. Também é verdade que eu já não me lembrava. Eles [Caixa Geral de Aposentações] é que me escreveram uma carta por ter feito 70 anos. Eu não pedi nada.
– Não parece mal uma reforma por tão pouco tempo?
– Só posso sublinhar que é legal Se não me enviassem a carta nem dava por isso. O Presidente da República também não recebe duas ou três reformas do Estado, além do vencimento? Mas eu nem questiono isso, que ele é uma pessoa séria.

Tiago Carneiro

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