1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.
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Constituição da República Portuguesa, Artigo 37º

sexta-feira, 16 de março de 2007

Nu & Cru - Portugal apodrecido

A democracia em Portugal necessita de ser reflectida, questionada, porventura refundada.
de:Rui Santos
Pedir árbitros para beneficiar determinadas equipas e pagar esses favores com promoções e outras coisas mais parece ter sido um expediente mais ou menos corrente no futebol português nos últimos anos. Segundo o Procurador-geral da República, Pinto Monteiro, somos um País de média corrupção. Mesmo que assim seja, o País não anda para a frente por causa da dita corrupção (média ou média/alta) e o poder judicial, só teoricamente escudado pelo princípio da separação de poderes, sente-se travado, quando não muito traído, pelo poder político. Esta é a primeira transformação que impõe operar. É preciso erradicar a corrupção fomentada e gerada pelo próprio Estado.  Vão completar-se 33 anos sobre a queda da ditadura e Portugal não é ainda verdadeiramente um País livre. Alguma vez o será? Mais grave é a sensação de que nem as mais antigas nem as mais jovens gerações se revêem nesta democracia que vamos (man)tendo! Voltar ao velho regime, como muitos já apregoam, mostrando uma surpreendente tolerância perante os desmandos de Salazar? Até os dedos rangem, só de pensar nisso. É preciso, no entanto, criar condições para se obter mais e melhor democracia e olhar para os seus lados negativos.
A democracia em Portugal necessita de ser reflectida, questionada, porventura refundada. Os partidos políticos e os seus representantes não podem ser os primeiros agentes de bloqueio à transparência. Não está, agora, perfeitamente à vista uma coisa que ando a falar há dezenas de anos e se expressa na forma como o poder político trata o futebol e o futebol trata o poder político? Essa relação não tresandou sempre a promiscuidade? Porque será que algumas das câmaras municipais deste País estão, também elas, sob suspeita?
Entre ameaças e outras coisas mais, Rui Rio acabou com o escândalo da edilidade portuense ser um bastião de poder do clube mais representativo da cidade. Em Lisboa, não são claras algumas ‘manobras’ entre o município e os clubes mais emblemáticos da capital? Independentemente dos negócios que podem estar subjacentes com prejuízo para o erário público, parece óbvio que há gente a mais, ocupando posições importantes na sociedade portuguesa, a cumprir um ‘plano de acobertamento’. Acobertam-se uns aos outros, em nome de grandes interesses e o povo é quem paga. A classe média vai encurtando e Portugal vai criando um fosso cada vez maior entre ricos e pobres.  Não sejamos ingénuos: quem se preocupa verdadeiramente com isso? Nem o Estado (essa besta canibalesca) nem a esmagadora maioria dos políticos, que à primeira oportunidade fogem do pântano como os gatos fogem da água. O ‘Apito Dourado’ é também uma responsabilidade do poder político que, durante anos a fio, fez os possíveis para validar o poder e a autoridade a certos ‘barões do futebol’. A montanha foi crescendo. A montanha da impunidade e do favor. Os principais protagonistas do futebol, a certa altura, acharam que podiam fazer tudo, convencidos de que o ‘sinal’ para poder fazer tudo era vitalício. Já se viu que não é. Aqueles que apostaram na nulidade das escutas e na inconstitucionalidade da lei estão agora noutra fase do seu sempre decantado optimismo: julgamento, pois claro! É aí, nessa sede, que se tem de provar a inocência dos agora acusados e exonerar o libelo da culpa.
Neste País apodrecido, onde o Futebol se cruza com os mais altos interesses, Pinto Monteiro e Maria José Morgado esgrimem contra todo o tipo de pressões que se movem em seu redor. Este Portugal bolorento, cheio de manhas e truques, que julga ter saído do ‘salazarismo’ mas que afinal foi gerando um número considerável de ‘pequenos ditadores’, de mentalidade trauliteira e caciquista, em que poucos são verdadeiramente livres, tem aqui uma boa oportunidade de questionar a sua própria idiossincrasia. Fátima Felgueiras continua a passear os seus modelitos, mais ou menos decotados, como se fosse uma heroína. Valentim Loureiro continua a achar, porque criou fortes laços de afectividade com a população de Gondomar e no futebol português, que o seu lugar ainda é na Câmara e na Liga.
Cheira a podridão e cheira a vingança. E ainda falta desmantelar a cáfila que tem feito do futebol português o terreno propício para todo o tipo de jogadas. Muitas delas, sujas
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