1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.


Constituição da República Portuguesa, Artigo 37º

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Extenso, mas vale a pena ler até ao fim, principalmente para todos
 aqueles que se orgulham de participar em manifestações mas uma vez
 embebidos na multidão continuam a não enxergar que provavelmente o
 problema parte de dentro de si mesmos e não da sociedade em que tão
 injustamente se vêem inseridos.

Um dia, isto tinha de acontecer...

Existe uma geração à rasca? Existe mais do que uma! Certamente!

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa
 abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes
 as agruras da vida.

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar
 com frustrações. A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se
 dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.

Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância
 e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus
 jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

 Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a
 minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos)
 vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós
 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor. Quantas vezes se ouve
 "no meu tempo não era  assim...)

 Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram
 nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles
a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes
 deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de
 diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível
cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as
 expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou
 presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

 *Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o
 melhor*; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, *quantas
 vezes em substituição de princípios e de uma educação* para a qual não
 havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado
 com que se compra
 (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
 Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A
 vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
 Foi então que os pais ficaram à rasca.


 Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem
 Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde
 não se entra à borla nem se consome fiado.

 Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar
 a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário
 de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

 São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e
 da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que
 os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade,
 nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

 São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter
 de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e
 que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm
 direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas,
 porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem,
 querem o que já ninguém lhes pode dar!

 A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo
 menos duas décadas.
 Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.


 Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por
 escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na
 proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o
 país
 lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a
 pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

 Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio
 nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique
 que  é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e
 interpretação da realidade em que se insere.
 Eis uma geração habituada a *comunicar por abreviaturas* e frustrada por
 não  poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que
 deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou
 etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre
 emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que
 nem um nem outro abundam.

 Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como
 mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi
 ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
 Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe
 chega e o acessório se lhe tornou indispensável.


 Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

 Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a
 quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero
 alheio.

 Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e
 inteligência nesta geração?

 Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!


 Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no
 retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem
 são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

 Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem,
 atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são
 empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que
 inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros
 (como  se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes
 de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

 E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos
 nossos  locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que
 alguns  acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente
 ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

 Novos e velhos, todos estamos à rasca.

 Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes
 jovens.
 Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme
 convicção de que a culpa não é deles.
 A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem
 fazer
 melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a
 sociedade  não consegue, não quer, não pode assumi-la.

 Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
 Haverá  mais triste prova do nosso falhanço?

 Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma
 generalização injusta.
 Pode ser que nada/ninguém seja assim.

FC Porto Campeão Nacional - Plantel

Moby - The Day

domingo, 10 de abril de 2011

Alentejanos

Um abastado lavrador da Amareleja meteu-se no seu jeep e foi a um monte
vizinho.


Bateu à porta.


Um puto de cerca de 9 anos vem abrir.


- O tê pai está em casa?


- Nã senhori; foi a Évora.


- Bem, a tua mãe está em casa?


- Nã senhori, ela também nã está. Foi com o mê pai.


-  E o tê irmão Maneli? Ele está...

- Nã senhori, ele também foi com a mãe e com o pai.



 O lavrador ficou ali uns minutos, mudando de um pé para o outro e
resmungando sozinho.


- Posso ajudá-lo em alguma coisa, pergunta o rapaz delicadamente; ê sei
onde estão as ferramentas; se quiser alguma emprestada; ou talvez possa dar
um recado ao mê pai...!!


- Bem, diz o lavrador, com cara de chateado, realmente queria falar com o
tê pai, por causa do tê irmão Maneli; ele engravidou a minha filha Raqueli


 O rapaz pensou por uns momentos:


- Lá disso nãa sêi, terá de falar com o mê pai. Se lhe servir de alguma
ajuda para ir fazendo contas, ê sêi que o pai cobra 500 pelo touro, 100 pelo
cavalo e 50 pelo porco, mas realmente nã sê quanto é que ele lhe vai levar
pelo Maneli!


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